De Atenas: Reflexões sobre a rebelião nas cidades inglesas


Welcome to Hackney! Londres, agosto de 2011.

Poucos dias após as declarações de representantes da polícia metropolitana - que chamou o povo para se tornar cafetões e dar informações dos anarquistas, cujas idéias se voltam contra o Estado, pois consideram-no desnecessário, indesejável e perigoso - dias depois de o próprio Estado assassinar a sangue frio um jovem, que por acaso era negro e era de um dos bairros mais marginais da Grã-Bretanha, a centelha tornou-se chama, e 16.000 policiais com cães, cavalos e balas tomaram as ruas para resgatar as lojas que foram queimadas de uma maneira espetacular. Na luta pela ordem e segurança (não esquecer que as Olimpíadas serão em menos de um ano) também é mobilizado o conceito da sagrada família, que, pela boca do vice-presidente do governo N. Clegg, é chamado a pegar seus filhos em casa, a onde pertencem e não às ruas da rebelião, e resgatam algumas lojas como a Marks e Spencer, Sony Store¹, ou algum outro templo do capitalismo. No entanto, a história mostra que nada pode parar as rebeliões. Depois de Brixton, Los Angeles, Buenos Aires, os subúrbios de Paris e Atenas, Londres está nos chamando, e o mais importante é que essa quimera não tem nada a ver com salários, aumentos, memorando... É a revolta de uma multidão, a que a barbárie do capitalismo não deixa respirar há dois séculos. De uma multidão que está cansada do conservadorismo de uma sociedade que se emociona apenas com chapéus e casamentos da alta sociedade, e pensa que sua vaidade se mascara e se esconde nas lojas agradáveis, nas ruas limpas com milhares de câmeras e nos policiais gentis que portam balas de borracha. Mas as pessoas, além dos falsos desejos e do cérebro letárgico, têm instinto. Um instinto que o Poder chama de primitivo e animal, mas na realidade é o instinto contra a injustiça. É o rugido da fera ferida ameaçando o caçador. É o grito do desempregado que vive com os subsídios de desemprego, do oprimido pelas leis, que tem crescido com milhões de câmeras em volta, do adolescente que vê seu futuro traçado, envolvido com álcool e drogas, tendo como única pausa a descarga barata de uma semana de férias em cada Faliraki de Rodas e em cada Mallorca do sul da Europa, do adolescente, onde as chaminés das fábricas escondem o céu. É a multidão que se recusa aos chefes de família, que como em Atenas², apoiados pela especulação dos meios de desinformação em massa, têm tomado a vassoura e pá para limpar "sua cidade" dos distúrbios. Uma cidade que não lhes pertence, pertence apenas aos seus produtos. Quanto aos saques e vandalismo, é sua resposta a este desumano mundo da abundância, já que a "destruição" na verdade é a superioridade humana ao produto. O roubo de televisões de plasmo por pessoas que cortaram a eletricidade indica a sua zombaria e exposição da mentira da riqueza. Por outro lado, é a multidão que não precisa do rótulo de indignado, porque simplesmente não se pergunta se está, se sente e está revoltado. Enquanto que a exploração, a injustiça e a violência do Poder continuam, mais cidades estarão queimando, proporcionando a satisfação e esperança de que nada acabou... P. S. Os mortos nos últimos dias são 4, e uma pessoa está agonizando depois de ser espancado por policiais, comprovando que a violência do Poder é a mesma em todos os lugares, e quando em perigo, mostra seus dentes, tanto no "primeiro mundo" como no "terceiro". Assembléia aberta dos anarquistas de Peristeri [1] A foto em anexo é da loja Sony Center em chamas. [2] N.d.T. Um grupo de supostos "amantes de Atenas", que acreditam que o problema da cidade é a limpeza e da ordem. Uma verdadeira muleta da ideologia dominante, tanto na teoria (se é que a tem), quanto na prática. [notícia veiculada por agência de notícias anarquistas-ana]
This entry was posted in General. Bookmark the permalink.

One Response to De Atenas: Reflexões sobre a rebelião nas cidades inglesas

Comments are closed.