Ocupação das praças: revolta popular ou embuste reformista?

O texto a seguir foi retirado (traduzido do inglês para o português) do Contra Info que, aparentemente, diverge com o From The Greek Streets (blog do Occupied London) na questão do movimento de ocupação de praças. Ambos os blogs vem servindo de portais de informação sobre as revoltas gregas sob uma perspectiva anarquista já há muito tempo e, se apresentam posições divergentes sobre essa questão, é por que realmente se trata de uma situação complexa.

Longe de ter uma posição bem definida sobre a questão, dadas as limitações de informação e conseqüente análise política sobre os acontecimentos na Grécia, destacamos que:

– O FogoGrego sempre manteve claro sua discordância com algumas das minutas da chamada Assembléia da Praça Syntagma.

– O “purismo” pode sim ser reacionário em certas situações. Porém até que ponto deve-se sacrificar o radicalismo em nome de maior adesão popular?

Confiando que xs compas gregxs saberão qual o melhor caminho a seguir, torcemos pela unidade dentro do campo ideológico anarquista. E pela vitória do povo contra o Estado.

 

FogoGrego

 

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Quantxs amigxs o pacifismo compulsivo do Facebook tem?

 

No dia 25 de Maio, da tarde até o anoitecer, aproximadamente 40.000 de todos os tipos de neo-gregxs encheram a praça Syntagma para validar do pior jeito o memorandum Troika, as medidas de austeridade e o privilégio exclusivo do Estado de uso da violência.

O encontro necrófilo pequeno-burguês de ontem teve lugar a apenas duas semanas depois do ataque do Estado contra as manifestações de 11 de Maio, com um recorde de centenas de cabeças sangrando e a hospitalização de Yannis Kafkas, em coma, e apenas poucos dias depois da escalada fascista sem precedentes de violência racial e canibalismo social, um pouco longe de Syntagma – no outro, degradado centro de Atenas: com repetidos ataques de policiais e fascistas contra casas, lojas de imigrantes e squats (okupas) anarquistas, com fascistas devotados abusando do brutal assassinato de Manolis Kantaris enquanto grupos neonazi lançam pogroms ferindo centenas de imigrantes e, fatalmente esfaqueando o bangladeshiano Alim Abdul Manan.

O encontro pacífico de Syntagma aconteceu mais ou menos ao mesmo tempo em que compas se encontravam na praça Victoria para resistir ativamente contra o terror do Estado, a segregação racial e as escórias da coluna nacional.

De acordo com os padrões do patético movimento Democracia Real Ya dxs reformistas espanhóis e da “geração à rasca” dos portugueses pacifistas, mais um encontro apolítico chamado pelo facebook, em frente ao Kynovoulio grego [traduzido como “casa dos cães”, trocadilho com Koinovoulio, parlamento] dessa vez. A presença simbólica de policiais em frente ao “Monumento ao soldado desconhecido” não deveria nos enganar. Não era somente a polícia anti-distúrbios que defendia os símbolos do poder mas principalmente o grande número de “cidadãxs indignadxs” que declararam fidelidade aos patrões e ao Estado.

O pacifismo compulsivo de um pseudo-movimento de resistência foi, é, e será somente mais uma versão da violência do Estado. Xs proponentes do sistema parlamentar, onde quer que estejam, propõe pacifismo esperando manipular a multidão e canalizar a fúria das pessoas em trilhas reformistas do sistema já existente ao invés da sua derrubada. Afinal, o perfil do manifestante democrático pacifista é o que querem também o Estado e o Capital.

Estes primeiro encontros na praça Syntagma em Atenas, assim como em outros pontos centrais em outras cidades gregas, tem dado um voto não oficial de confiança a um sistema que tem suas fundações podres. Nós vemos em um nível europeu tais movimentos funcionando como uma válvula de escape contra a guerra social e de classes. O que o cassetete de um policial ou a faca de um fascista não podem alcançar é levado a cabo pela propaganda reformista de facebookers apolíticxs.

O movimento antagonista e dissidentes radicais deveriam revelar a natureza reacionária e contra-revolucionária destas cópias falsas das revoltas do mundo árabe. Uma das fundamentais características do capitalismo é seu poder de absorver e transformar as vozes que o desafiam. Dessignificando palavras como fúria, revolta e revolução o sistema e seus/uas partidárixs esperam conduzir o movimento de libertação social e divergi-los em trajetórias indolores a elxs mesmxs.

Os avisos dados pelxs Madrileños axs acampadxs de Syntagma tipo “não causem distúrbios” tiveram ressonância em muitas pessoas. A imprensa do sistema mundo a fora reproduz, investe e adorna os argumentos pacifistas e os vende como a única perspectiva esperançosa.

Enquanto não avançamos em direção ao confisco dos meios de produção, a abolição da propriedade, a rebelião multiracial e a construção de estruturas de apoio mútuo e de auto-organização mas, ao invés, rendermos nossas bandeiras e entregarmos nossas armas à Sytagma [palavra que também significa Constituição] ou qualquer outro lugar, cantando e ouvindo o hino nacional; enquanto estivermos em um humor alegre com violões e músicas quando deveríamos estar segurando pedras, nós continuaremos a ser escravxs dxs nossxs patrõxs.

Para nos referirmos à três (das mais nauseantes) minutas da assim chamada “Primeira Assembléia Aberta da Democracia Real Agora na Praça Syntagma”, de acordo com o website oficial do movimento:

– A juventude vem com alma, fé, pacificamente, não como em dezembro de 2008. Todxs a madurecemos.

– Outro dia a extrema-direita estava espancando e esfaqueando imigrantes, imigrantes dos países que foram os pioneiros e ensinaram tudo de insurrecional que tem acontecido no mundo nos últimos meses.

– Depois de Velos [motim anti-ditatorial marinho de 1973] e da Politécnica [levante estudantil de 1973], este é o primeiro ato de democracia direta e levantamento da moral na Grécia.

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