Para o Prefeito de Atenas
Após a proposta da assembléia temática de Democracia Direta, a Assembléia Popular de Syntagma responde mais uma vez para o Prefeito de Atenas Sr. Kaminis acerca de suas declarações, suas intenções, e todos os comentários na imprensa que se referem ao plano de “evacuação” da praça. O anúncio foi o seguinte:Para o Sr. Kaminis Seguindo uma ordem do governo, você afirmou que irá esvaziar a praça Syntagma, responsabilizando-se assim pela tarefa de executar um ato inconstitucional, visto que na nossa Constituição, o artigo 11 protege categoricamente o direito dos cidadãos e das cidadãs de se reunir em assembléias. Nós queremos lembrá-lo que os espaços públicos pertencem a estes mesmos cidadãos e cidadãs. Por 45 dias o povo de Atenas (a cidade da qual você é o prefeito) está se concentrando em protestos pacíficos em espaços e praças públicas. Nós lutamos por justiça e dignidade e nós negamos obediência à leis injustas e inconstitucionais que literalmente destrói nossas vidas. Por 45 dias agora as assembléias populares botam em prática a Democracia Direta, causando interesse mundial na observação de sua aplicação, e também interesses turísticos. Ainda assim, estamos sendo ignorados abertamente por você, por 45 dias.
Ao invés de ocupar o seu lugar conosco no movimento da praça Syntagma, se apressa em consentir com as ordens governamentais contra nós. Porém, você declara, falsamente, maliciosamente, que para qualquer cancelamento de turismo e diminuição das atividades comerciais do centro da cidade, aqueles aos quais se deveria culpar seriam xs “indignadxs”! Mas você sabe (e sabe muito bem) que xs milhares que passaram, estão passando, ou permanecem em Syntagma, Gregos ou estrangeiros, não só não provocam o arrefecimento do turismo e do comércio, como os reforçam. Você não disse palavra alguma sobre as desastrosas consequências para o turismo causadas pelo terrorismo de Estado do dia 15, nem sobre a orgia química, nem sobre a violência policial contra xs manifestantes nos dias 28 e 29, não só na praça Syntagma, como também em Pagrati, Stadium, Monastiraki e Aeropageitou, etc. Nada foi dito também sobre as consequências de toda essa violência e terrorismo para a atividade comercial próxima de Syntagma e do centro de Atenas. Você não disse nada sobre o ataque das hordas do esquadrão de polícia especial “DIAS” (motociclistas com “licença para matar”) contra as vendas de Ermou, e os atos de violência ocorridos inclusive contra turistas. Você não se posicionou contra a violência das forças de repressão que agiram em peso contra os cidadãos e cidadãs da cidade e se recusou também a discutir a questão durante a audiência na câmara municipal. Nem uma palavra sobre os desastres causados pela repressão e as forças MAT do governo em relação aos espaços públicos da cidade, e especialmente da praça Syntagma. Nem mesmo sobre os milhares de químicos que a guarda de elite do Sr. Papoutsis espalhou, e cujos custos reais foram a saúde e a segurança dxs Atenienses. Você não compareceu em uma única intervenção para prevenir a violência incontrolável da polícia, que resultou em centenas de feridxs. Foi através da sorte e da nossa solidariedade que no fim do dia não haviam pessoas mortas. Você não disse nada sobre o plano organizado pela polícia de promover drogadictos para a praça Syntagma. Se algumx sem-teto ou drogadictx encontra lá o seu refúgio, é porque lá não são perseguidxs. Se a presença delxs insulta sua estética, nós o lembramos que elxs são vítimas da insensibilidade do Estado e das políticas municipais, das quais você também é responsável. Ao invés de perseguí-lxs de rua em rua e praça em praça, é o seu dever resolver os problemas delxs, dar esperança, providenciar moradia e assistência médica, para que possam reconquistar sua dignidade perdida. Não podemos nos esquecer, que a maioria daquelxs que permanecem nas tendas, acampadxs em Syntagma, é composta de pessoas que deixaram suas casas e suas vidas, para materializar efetivamente o lema da praça: “Nós não iremos, até que eles saiam”. São essas pessoas decisivas que o atual status de poder teme e insulta. Sr. Kaminis, quando a população estava em perigo, a sua ausência foi evidente, foi notória. Naqueles dias e horas críticas, Atenas não tinha um Prefeito… Deixando de lado, desta forma os pretextos, e admitindo que você está agindo sob ordens para colaborar com o plano de dissolução das assembléias populares. Você irá consentir com as sugestões de um governo injusto e violento que você serve voluntariamente até hoje, e finalmente se colocar abertamente contra os cidadãos e cidadãs da “sua” cidade? Você irá, ao invés de ser o Prefeito, desprezar a possibilidade de ser o protetor do povo e tornar-se cúmplice da violência que se arremete sobre ele? Nós não somos apenas xs “indignadxs” que a mídia insiste em afirmar como se fosse um rascunho; nós somos cidadãxs ativxs, decididos a lutar de todas as formas que decidirmos em comunidade através das nossas assembléias, até que todos aqueles que nos direcionaram a estas condições que estamos inseridos afastem-se, até que todos vão embora: o Governo, a Troika, a memoranda e as medidas de austeridade, bancos e seus representantes, etc. Até que possamos conseguir de volta nossas vidas e instalar uma democracia de igualdade, justiça e dignidade. A assembléia popular interessa a todos os cidadãxs. Você pode vir como um cidadão e expressar seus pontos de vista, como todxs.
Assembléia Popular da praça Syntagma, 10 de Julho de 2011.
[retirado de from the greek streets / tradução livre: fogogrego]